sábado, 5 de março de 2016

I ENCONTRO DE MULHERES DA UFPA – (04 a 08/03/2016)


       O tema maior do evento "O protagonismo das mulheres na Amazônia: mais direitos, menos retrocesso" trouxe importantes exposições sobre esse assunto. A segunda mesa do dia 04/03, apresentou o sub-tema "História da luta feminista na Amazônia". Convidada para uma exposição sobre esse sub-tema, a Profa. Luzia Álvares (GEPEM) explicou, primeiramente, que ela apresentaria o tema sobre a Amazônia paraense visto não haver pesquisa nesse assunto sobre a Região como um todo. Em seguida, procurou avaliar o conceito de feminismo e de movimento de mulheres (considerando os resultados de sua pesquisa "Os Movimentos de Mulheres e Feministas e sua atuação no avanço das carreiras femininas nos espaços de decisão política - CNPq n.º 402969/2008-1)
      Utilizando-se do enfoque do Dicionário do Pensamento Social do Século XX  (org, Outhwaite, Bottomore et ali, Zahar, 1993) evidenciou que os autores tratam de divergências entre as ações dessas categorias. O movimento de mulheres antecede ao feminismo e pode ser diferente deste. "São movimentos sociais que exibem uma heterogeneidade de objetivos e formas de associação ou de organização".  Há referências históricas que apontam para esse "modus operandi" desses movimentos. Desde Maomé, dizem os autores, é possível ver mulheres lutando contra as proibições para comercializarem. (p. 493).
     Quanto ao feminismo, são encontradas no século XIX, primeiro como força ideológica e política, sendo usado esse termo por militantes pelos direitos das mulheres.
     Na exposição, a profa. Luzia definiu, primeiramente, o que considera feminismo e em seguida, apresentou seu modo pessoal de tratar do tema partindo de sua experiência pessoal na descoberta dos modelos femininos e seus questionamentos, de seu ativismo e do que, na história do Pará pode ser considerado feminismo, partindo da ação dos movimentos de mulheres.

1.      Feminismo e seus conceitos
      É uma ideologia formada por um conjunto de ideias estruturadas no âmbito teórico-cultural-institucional-pessoal das sociedades, que foi incorporada pelas mulheres na luta por seus direitos e por se fazerem reconhecidas enquanto pessoas humanas.

    E um movimento social, filosófico e político que tem como objetivo direitos equânimes (iguais) e uma vivência humana por meio do empoderamento feminino e da libertação de padrões opressores patriarcais, baseados em normas de gênero. Envolve diversos movimentos, teorias e filosofias que advogam pela igualdade entre homens e mulheres, além de promover os direitos das mulheres e seus interesses

2.      Experiência pessoal - por que sou diferente dos meus irmãos? – conceito de ser mulher dentro de um modelo do ser feminino questionado anos  depois.

3.      Experiência política - em uma história de ativismo nos movimentos sociais e de mulheres em Belém – década de 1980 - na luta pelos presos políticos em que suas mulheres permaneciam nna porta das prisões, com os movimentos para que a polícia não tirasse os presos de lá e sumisse com eles.

4.      Experiência acadêmica – pós-graduação sobre a presença das mulheres nas atividades políticas e partidárias – pesquisa sobre as Ligas femininas partidárias na Primeira e Segunda República, no Pará, sobre o sufragismo em Belém – e minha presença intensiva nos movimentos de mulheres -  desde meados e final da década de 1980

5.      Experiência de objetivo de vida – hoje vive o feminismo através do processo de disseminação da cultura política anti-sexista (machista) que domina a sociedade ao explorar os modelos de mulheres e homens criados pelo patriarcado, hoje tratado como patriarcado contemporâneo.


AS VÁRIAS FORMAS DE ATIVISMO FEMININO EM BELÉM E NO PARÁ (há algum tempo)

a)      Das operárias em busca de melhorias de sua condição de trabalho e salários – greves – década de 1910-1920
b)      Do movimento sufragista na década de 1930 – e a organização das mulheres trabalhadoras em função das mudanças na legislação trabalhista e a organização do Departamento Paraense pelo Progresso Feminino – DPPF (presidido por Elmira Ribeiro Lima) integrado à FBPF – Federação Brasileira pelo Progresso Feminino organizado por Bertha Lutz e cuja assessora era a advogada Orminda Ribeiro Barros – nascida em Manaus, mas criada e formada em Belém (professora de grego no Colégio Paes de Carvalho);
c)      Dos Clubes de Mães – criados na década de 1970 e em seguida apropriados pelos movimentos sociais transformando-se em Movimento do Custo de Vida, conhecido pelo caráter de mobilização contra a ditadura. Em plena ditadura militar, o Movimento do Custo de Vida enfrentou a repressão na Praça da Sé, contestando o regime militar. (Movimentos e Movimento de Mulheres: O Caso do Clube de Mães da Baia do Sol – Josinete Pereira Lima – TCC 2000/DCP/IFCH/UFPA);
d)      Dos movimentos de mulheres de associações cristãs (ACF, MOPROM) e Clube de Mães, mulheres de Conselhos municipais, associações de mulheres de partidos (UBM, MMCC), do movimento negro (- CEDEMPA -Nilma Bentes, Fátima Silva) e do Fórum paraense – década de 1980 (1986);
e)      Dos grupos de estudos sobre a questão da mulher em meados da década de 1990; criação do GEPEM/UFPA(1994) e integração com os movimentos de mulheres – através da FASE, do MAMA, do FMAP;
f)      Da articulação dos Fóruns com os movimentos de mulheres e as pesquisadoras integradas aos estudos e pesquisas sobre a situação das mulheres e neste momento incluindo-se à teoria de gênero na perspectiva feminista – teoria crítica feminista – ver como a antropologia clássica tratava da teoria de gênero – Mireya Suárez;
g)      Criação de inúmeros movimentos de mulheres no Pará – das várias áreas; das várias ideologias (liberal, socialista, emancipacionista).
h) Organização  pelo GEPEM, na UFPA, de quatro "Encontro Amazônico sobre Mulheres e Gênero".

h)      A MAIORIA DOS MOVIMENTOS DE MULHERES NÃO REGISTRA O DE SER FEMINISTA MAS SEMPRE TRATOU DOS DIREITOS DAS MULHERES.


        No momento atual – na efervescência dos debates para enfrentar a desigualdade em direitos, o movimento feminista se inscreve em várias frentes. Hoje as feministas da Amazônia paraense (que são/estão nos movimentos de mulheres sem ostentar o termo), como as suas congêneres mundiais, estão em todas as frentes em que se faz necessário lutar pelos direitos humanos. Dizer que elas estão lutando só pelos seus problemas é estar de fora da filosofia feminista atual que tem um leque de demandas para criar o emblema do reconhecimento da diversidade. Lutamos pela incompetência da parcialidade dos direitos, lutamos contra uma cultura segregacionista, pela plena diversidade, lutamos pela amplitude do abraço a todos os seres humanos que estão sem direitos.

I ENCONTRO DE MULHERES DA UFPA  continua a sua programação até o dia 08/03 culminando com um ato público celebrando o Dia Internacional da Mulher (cf. http://emufpa.blogspot.com.br/)

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